Não mais me reconheço nas paredes da
minh’alma como arte, mas sim como tinta ressecada e desgastada pelas
virulências da vida. Atirei sobre o meu manto dourado as minhas angústias, a
sufocar-me em meus sonhos, tal qual o pio sentido das engaioladas asas da
liberdade. Hoje, respiro o suspiro dos tolos, como se de hipocrisia se
alimentasse a esperança, e ainda assim, me julgo justo, ou justiceiro, das
ambiguidades da insensatez.
Hei de morrer jovem, tolo e ignorante,
alvo consciente das minhas inconsequências. Hei de matar inconscientemente cada
resto de euforia que em meu peito vibrante habita. Hei de voltar antes mesmo de
partir, de violentar em escolhas o tempo. Hei de estar sem estar, sentir sem
sentir e deixar, por deixar.
Da pintura envelhecida, desgastada e
desgastante do meu ser, hei de vomitar o último lamento nas mazelas do negro
das incongruências. Dos cacos, adubar as lembranças, como em balaios das mais
populares quinquilharias, e do pó, dissipar aquilo tudo que jamais fora
compreendido, e que um dia o vento dos sentimentos haverá de compartilhar.